segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Diálogo entre corações

Um sábio andava pelo caminho quando encontrou um velho conhecido. Ele era chamado de coração triste, recebeu esse apelido por causa das suas murmurações, por causa do seu ângulo de visão, da sua perspectiva de vida.

Percebendo o seu costumeiro desânimo, o sábio o questionou:

Porque murmuras coração triste???
Não sabes tu que nada será para o teu mal???
Porque insistes em tua infantilidade???
Porque permites que imponham ou coloquem sobre ti aquilo que nunca ansiastes???
Aprenda a contemplar as coisas simples da vida, nelas encontrarás o verdadeiro caminho para a felicidade e assim perceberás que as tuas frustrações não passaram de testes.
Aprenda com elas... reflita sobre elas!!!
Certamente curarás as tuas dores.
Superarás as tuas tribulações.
Verás que nunca estivestes só.
Tenha coragem, tenha ânimo!!!

O sábio percebendo que as suas palavras pareciam não encontrar destino, levou o coração triste a observar outro coração. Este outro era conhecido como sonhador, mas o sábio o chamava de coração alegre.

Então, o do caminho falou para o coração triste:

- Olha para o coração alegre e fala com ele, pergunte, sane as suas dúvidas.

Triste como sempre, o coração mais desanimado do que nunca, começou o seu interrogatório:

Porque te alegras oh coração???
Não te chamam de bobo ou de louco???
Não te preocupas com isso???
Olha o que falam de ti... Chamam-te de sonhador!!!
O que vês na vida que te leva a agir e a falar como um alucinado???
Não tens dificuldades??? Não sentes solidão???
Como podes ser tão diferente da maioria e tão parecido ao mesmo tempo???
Não sabes o que é vaidade??? Em que escola tu crescestes??? Em que mundo vives???
Não te preocupas com as cobranças, com as perdas e com os fracassos???
Os que fizestes, nunca te frustraram???

O coração alegre esperou por um momento, tentando ver se o coração triste se acalmava. Então começou a falar. Não como quem queria impor algo, mas como alguém que já tinha vivido o suficiente para entender as dores do seu próximo.

Caro coração triste, sei das tuas dores, das tuas tribulações. Sei em que escola crescestes e sei quais as principais disciplinas em que fostes conduzido. Eu também cresci como você. Na minha juventude pensava na vida como algo mecânico. Tinha metas, mas elas não nasceram em mim, não partiram de dentro, pelo contrário, foram impostas.

Hoje continuo tendo metas, mas estas brotaram daquilo que acredito, daquilo que sei que me fará feliz, ainda que para alguns a felicidade seja uma utopia. Por isso não me preocupo com o que pensam, com o que falam ou julgam. Simplesmente faço...

Sim, me frustrei, errei e errei muito, mas as minhas frustrações e os meus erros serviram como professores na escola da vida. Por causa deles não me vi como um perdedor, pelo contrário, me percebi um vencedor ao encará-los de frente e reconhecer a minha fragilidade, e por incrível que pareça, isso me fez mais forte.


Dificuldades??? Acho que a vida seria sem graça se tudo fosse fácil... Além disso, acredito que viveríamos como crianças, nunca chegaríamos a maturidade.

Vaidade??? Um dia conheci o coração de um homem que era muito vaidoso. Ele já estava no leito de morte... Tinha vivido como ninguém havia antes... Desfrutado de tudo o que tinha desejado, mas as suas palavras eram tristes, pois percebera que tudo o que tinha buscado era vaidade. Sabe o que ele mais queria??? Sabedoria, conhecimento e estes o levaram ao poder e às riquezas, mas não à felicidade, à alegria plena. Ele buscou alimentar a sua alma, mas esqueceu do coração, esqueceu de amar. No fim dos seus dias reconheceu o seu erro e percebeu que tudo não passava de vaidade.

Hoje, meu caro coração triste, nós poderíamos carregar o mesmo nome, mas há algum tempo eu decidi correr atrás dos meus sonhos. Procurei dar sentido a vida, deixei o egoísmo um pouco de lado e me doei, pois não vi a felicidade na solidão, no egocentrismo.

Escolhi o caminho mais “ridículo”, o mais improvável segundo a maioria, mas foi justamente nesse caminho que eu consegui ver um final feliz. E decidi... Isso foi de fundamental importância!!! Descobri o que eu queria e o que eu não queria para os meus seguintes dias.

Além disso, vou te mostrar o maior caminho para a felicidade. Caminho descrito por um coração que entendeu o que é ser feliz e como se faz para ser feliz:
“Ainda que eu falasse a língua dos anjos e dos homens, se não tiver amor eu nada seria...”

Então é isso coração triste...

Se vivermos por viver, simplesmente para satisfazer as nossas vaidades ou àquelas que nos impõem, a vida não passará de um peso sobre as nossas costas. Tudo não passará de enfado e fadiga, seguidos de murmuração e tristeza.

Por isso pense bem... Qual o caminho vais escolher trilhar???

Te dou um exemplo bem significativo. Havia um homem que esqueceu de si e se doou... Ele era um grande rei, mas se fez servo, pois viu que só assim se satisfaria. E com isso levou vida para muitos corações.

Outro dia te conto mais sobre ele... Sei que irás gostar...


O coração triste permaneuceu reflexivo... Ficou ruminando as palavras do alegre coração.

O sábio, percebendo a sua introspecção, o perguntou:

- Caro coração, por que não escolhes logo??? Por que ainda tens dúvida??? Vais permitir que aquilo que te é imposto reine sobre ti??? Aquela que deveria ser a tua companheira passou a ser a tua maior inimiga??? Porque permitiste isso???


O coração triste sem nada entender, só escutava.

Não conseguindo ficar quieto, indagou:

O que queres dizer com essas palvras??? Onde queres chegar???

O sábio não gostava de entregar as coisas de bandeja e por isso contou uma história:

Havia no mundo dois grandes amigos. Nasceram e cresceram juntos... Eram como carne e unha. Gostavam de fazer as coisas juntos, passear, estudar, assistir filmes, jogar futebol. O primeiro ele chamou de cordis e o segundo de psiquê.

Mas um dia, devido aos intempéries da vida, psiquê desapareceu. Cordis, aflito e sem entender se questionava:

- o que eu fiz??? onde magoei o meu melhor amigo??? por que ele sumiu???

Certo dia, meio que por acaso, eles se reencontraram, mas quase não tiveram tempo de conversar. Psiquê falou que não tinha muito tempo, pois teria que resolver alguns problemas e por isso cada segundo valia ouro. Cordis, bastante solitário se sentiu despresado, deixado de lado. Nem se quer deu tempo de falar sobre a saudade que sentia, sobre o desejo de fazer algo juntos.

Passado alguns dias, Cordis não suportou tudo o que tinha acontecido e adoeceu. Ele era meio que... "frágil". Sentiu mais do que os outros, era também conhecido como sentimental, mas isso era exagero. Ele era apenas uma pessoa que sentia-se bem em viver em harmonia e comunhão.

Para sua alegria o Psiquê veio visitá-lo e choraram juntos. Cordis não reclamou da sua ausência, pelo contrário, o abraçou e beijou. Psiquê ao vê-lo naquela condição percebeu o que tivera feito com o amigo e reconheceu:

- Caro Cordis, me perdoe o egoísmo. Hoje percebo o quanto estava cego. Permiti que as pressões da vida me engessassem e assim procurei a felicidade através da busca pelo ter e me esqueci de ser. Esqueci de ser seu amigo, esqueci das nossas conversas, do tempo que passamos juntos. Fui egocêntrico e não procurei saber dos seus sonhos, daquilo que o faria feliz. Me perdoe caro cordis. Prometo que a nossa harmonia voltará a ser como antes, para que assim vivamos como antes...

Ao terminar a sua história o sábio olhou para o coração triste e percebeu que ele continuava introspectivo... Não conseguia falar... Estava sendo invadido por um turbilhão de pensamentos. Logo teve um insigne...

- Agora entendi!!! Disse ele expressando uma certa euforia. Um dia eu fui feliz também, assim como o coração alegre, mas as cobranças externas me fizeram trilhar outro caminho. Quando deveria ter aprendido com os meus erros, me condenei. As frustrações foram como buracos ou abismos intransponíveis, porque eu só olhava para as circunstâncias e não tinha mais esperança. Na realidade, eperança era uma palavra dos tolos, e não cabia a miha pessoa agir como um sonhador. Tudo tinha que ser real e mais do que isso, tinha que ser palpável. Confesso que por um instante lutei contra isso, mas me rendi aos seus apelos.


O sábio, percebendo que o coração triste estava prestes a mudar de nome, concluiu:

- Grande Coração, não quero chamá-la mais de triste e sim de Renovado.

O coração que antes era triste não entendeu e perguntou:

- Por que "coração renovado"???

O sábio respondeu: Porque um coração renovado está diretamente ligado a uma mente renovada. Te dei este nome para que nunca te esqueças de renovar constantemente a tua mente, pois os mesmos pensamentos que te invadiram um dia, tentarão te invadir novamente. As cobranças e os intempéries farão parte da tua camihada, mas você tem que entender que estas coisas servirão como aprendizado e para o teu fortalecimento. Por isso, busque sempre escutar a primeira voz, não despreze a segunda, mas a questione, assim entenderás qual o verdadeiro caminho da felicidade.

E assim mais um coração foi restaurado.. O próximo pode ser o seu...

PS: No texto acima não levo em consideração teorias teológicas como tricotomia ou dicotomia, apenas tento expressar alguns pensamentos, os quais julgo independentes.

Nenhum comentário: